A cinco dias de a seleção fazer sua primeira partida pela Copa nos gramados da África do Sul, aqui no Brasil a polêmica já entrou no campo... da fé. A proibição da Fifa de que mensagens religiosas sejam exibidas pelos jogadores durante as partidas virou tema de debates sobretudo em sites evangélicos. Muitos internautas veem na regra uma forma de intolerância à diversidade de credos.
Por trás da proibição, estaria a preocupação de que jogadores muçulmanos também repitam os gestos dos evangélicos na Europa, criando uma disputa religiosa no esporte.
— Na minha opinião, essa decisão fere um princípio de liberdade, garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. O atleta que mostra a origem de sua fé, agrega valor ao esporte. Aquela ajoelhada dos jogadores muçulmanos após o gol, por exemplo, é uma ajoelhada para Alá — afirma o ex-piloto Alex Dias Ribeiro, diretor-executivo do ministério Atletas de Cristo de 1985 a 2007.
A restrição atinge em cheio o grupo de Dunga, de maioria evangélica, acostumado a expressar fé em campo, sobretudo nas figuras do meia Kaká e do capitão Lúcio.
Advertência em 2009
Uma dessas manifestações, na final da Copa das Confederações, no ano passado, resultou numa advertência à CBF. Na época, a federação pediu moderação na atitude dos atletas, que fizeram um espécie de culto no gramado. O Brasil só não foi punido porque a oração foi feita após a partida. Sete anos antes, na conquista do pentacampeonato, o comportamento dos jogadores já era alvo da observação da Fifa, que mostrou descontentamento com o que teria considerado excesso de referências religiosas.
O ex-jogador Paulo Sérgio, que participou da conquista do tetra, não concorda com a decisão. Mas acha que o gramado não é o único palco para manifestar a fé:
— Em 1994, tínhamos liberdade. Mas você pode mostrar que é atleta de Cristo de outras formas, com suas ações no dia a dia.
'Jesus' na chuteira de Kaká
A restrição ao uso de mensagens religiosas, políticas e declarações pessoais está relacionada no item 4 da Regra dos Jogos da Fifa. Ele trata do equipamento básico de uso obrigatório pelos jogadores, como a chuteira, peça na qual Kaká pode exibir a frase “Jesus in first place” (Jesus em primeiro lugar, em inglês), durante as partidas em solo africano.
O calçado foi personalizado por uma das patrocinadoras do jogador e mostrado dias antes do embarque dos jogadores para a África do Sul. O jogador Grafite também ganhou um modelo exclusivo, mas com os dizeres Graffa 23 (número da camisa que usa na seleção).
Consultada sobre qual seria a punição ou sanção aplicada ao jogador ou à CBF pelo uso da chuteira com conotação religiosa — o que seria uma violação à regra — a Fifa respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que não poderia especular sobre algo que ainda não aconteceu.
O diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, afirmou que os dizeres impressos nos calçados dos jogadores não são de responsabilidade da entidade. Segundo ele, não houve nenhum tipo de censura da Fifa no episódio da Copa das Confederações:
— A advertência foi só com relação àquele episódio. Não houve recomendação sobre chuteira. O que está escrito nela é de responsabilidade de cada jogador.
http://extra.globo.com/esporte/jogoextra/posts/2010/06/10/copa-veto-manifestacoes-religiosas-pela-fifa-cria-polemica-298736.asp
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